"Não alugue um ponto que nunca deu certo". "Faça um empréstimo". "Comece com sociedade". "Você precisa ter muito dinheiro para o início". Esses são alguns conselhos bem comuns dados àqueles que querem abrir um negócio. O mundo do empreendedorismo vive rodeado por histórias, causando receios em quem está querendo se arriscar no mundo business. Porém, para cada mito, existe uma verdade.
Confira relatos de CEOs especialistas e veja que, apesar de não ter como fugir dos riscos, empreender não é tão assustador assim:
O mito: Conquiste o mundo!
A verdade: Derrube um pino por vez
Esse foi um dos principais aprendizados da trajetória da scale-up Involves, que desenvolve um software para gestão de trade marketing. No terceiro ano da empresa, quando já haviam enquadrado seu produto neste mercado, os sócios fundadores acreditaram poder atuar em diversos segmentos simultaneamente. "Nós vendíamos a solução para distribuidores, agências e indústria, dentro deste último, atacamos eletrônicos, cosméticos, alimentos, bebidas etc., e isso representou um foco muito amplo ou, melhor colocando, uma grande falta de foco na nossa atuação", conta André Krummenauer, CEO e cofundador da Involves. "Para quem está começando no universo do empreendedorismo, uma dica é: derrube um pino por vez. Não comece querendo conquistar o mundo inteiro ao mesmo tempo. Foque em um segmento, entregue o máximo de valor para a categoria e depois vá, aos poucos, para outras frentes. Nós teríamos sido muito mais cirúrgicos e escalado de forma mais organizada e eficiente se tivéssemos foco desde o início", acrescenta André.
O mito: Invista capital próprio
A verdade: Procure investidores qualificados
Um mito comum é o de que, para iniciar um novo negócio, é necessário investir capital próprio e assumir o risco de perdê-lo. "Investir o patrimônio no próprio negócio é uma prática comum na cultura empresarial. Entretanto, também é possível criar negócios inovadores com a ajuda de investidores", afirma o CMO da Motoboy.com, Rafael Perboni. Segundo o cofundador da startup de entregas ultrarrápidas, investidores qualificados ampliam as possibilidades para empreendedores executarem negócios de valor. Além disso, favorecem oportunidades de conexões com parceiros estratégicos e evitam a perda de foco do empreendedor pelo risco ao seu patrimônio.
O mito: Empreender é agir
A verdade: É preciso agir certo e na velocidade certa
É do senso comum acreditar que para empreender basta arregaçar as mangas e fazer. Mas agir não é garantia de sucesso. Para além de uma atitude empreendedora, o mundo digital em que vivemos exige que se faça com qualidade e se tenha agilidade para obter mais produtividade e vencer concorrentes: "Tem poder quem age, mais poder ainda quem age certo, e super poderes quem age, age certo e na velocidade certa", lembra Luiz Alberto Ferla, fundador e CEO do DOT digital group, empresa de educação digital com 24 anos de atuação no mercado. Para Ferla, empreender é um exercício de confiança. De assumir riscos sem a garantia do sucesso e acreditar que pequenas ações terão repercussões positivas para a comunidade. "Inspirar e exercitar essa confiança faz parte da construção de um país empreendedor e competitivo", complementa o CEO do DOT.
O mito: Qualquer ideia pode dar certo!
A verdade: Valide sua ideia
Como saber se uma startup pode dar certo? Validando a ideia junto aos potenciais clientes e ao mercado, para verificar a adesão do produto. "A validação evita que você gaste dinheiro, tempo e energia - fatores muito importantes para qualquer empreendedor - para lançar produtos ou soluções que não vão ter aceitação nenhuma no mercado", comenta Guilherme Verdasca, CEO e cofundador da Transfeera, startup open banking de Joinville (SC). Segundo ele, a maior dificuldade dos empreendedores é a de entender que esse processo de validação serve para coletar feedbacks que auxiliarão na construção da empresa: "validar é imprescindível para que você possa focar todos os seus esforços num modelo que realmente vai funcionar".
O mito: Saia fazendo!
A verdade: Planejar é preciso
Determinação e resiliência são essenciais para qualquer empreendedor. Mas essas habilidades podem ser facilmente suplantadas pela falta de planejamento na hora de montar um negócio próprio. "É fundamental testar a ideia, estudar o mercado e conhecer seus potenciais e limitações. Só assim é possível amadurecer o negócio, entender o nível de esforço a empregar e prever oportunidades", diz Robledo Ribeiro, fundador da HostGator - multinacional de hospedagem de sites e presença online - no Brasil. O planejamento, destaca o executivo, não deve ser tão rígido a ponto de bloquear a espontaneidade. Um plano de negócios bem estruturado precisa incluir a ideia central, o público-alvo, o produto oferecido e a estratégia comercial. Uma previsão das necessidades financeiras, de pessoal e de ativos também conta a favor, além de uma política de preço e de divulgação. "O planejamento ajuda o empreendedor a pensar no negócio em si e é uma ferramenta útil para empresas de todo porte. A execução dele, no entanto, precisa ser flexível", diz Ribeiro.
O mito: Você precisa ter muito dinheiro para iniciar
A verdade: Comece com o que tem
Há um pensamento comum de que para fazer novos negócios crescerem, é imprescindível ter um grande capital para desenvolver sua ideia. Alexandre Souza, gestor do Startup SC, do Sebrae/SC, lembra que o dinheiro é um fator importante, mas não pode ser um entrave na hora de empreender. Hoje, existem programas gratuitos dedicados inteiramente a auxiliar startups iniciantes a se estruturarem, com iniciativas que abordam desde empreendedores em fase de pós-ideação até a captação dos primeiros clientes. É um exemplo do Programa de Capacitação Startup SC, que com uma série de workshops e mentorias, tem o objetivo de capacitar pessoas que queiram criar negócios de base tecnológica. "Grande parte dos empreendedores começa com recursos próprios, de familiares ou amigos. É comum vermos startups usarem do dinheiro na hora errada, o que pode gerar grandes problemas no futuro. É preciso estar atento na hora e no jeito certo de investir", explica Alexandre.
O mito: Sociedade entre pessoas com as mesmas habilidades não dá certo
A verdade: Defina os papéis de cada um
Os fundadores da Effecti, startup de Rio do Sul (SC) especializada em fornecer soluções tecnológicas para fornecedores participantes de licitações, Everton Porath e Fernando Salla, ouviram muitas vezes que tinham que buscar sócios com outras habilidades para que seu negócio desse certo, já que ambos eram da área técnica. Mas foi na prática que conseguiram quebrar o "mito", ao desenvolver novas aptidões como empresários que não tinham quando ainda eram funcionários de outra empresa de tecnologia. Hoje, Fernando é o CEO, responsável pela parte estratégica, criar relacionamento e conexões com o mercado, enquanto Everton é o COO, cuidando de toda a parte operacional. "Nós dois temos a mesma formação, ambos programadores, mas desde o início definimos qual seria o papel de cada um na empresa, como seria a divisão de tarefas, criando uma sociedade que se complementava", explica Salla.
Fonte: Empreendedor