Com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano, o Brasil se torna o primeiro país entre as economias desenvolvidas a interromper o ciclo de alta, que teve início em março de 2021, quando a taxa básica de juros da economia estava em 2%.
A decisão coloca o Brasil como o primeiro a interromper o ciclo de alta entre as economias desenvolvidas, segundo a economista da XP, Tatiana Nogueira.
"Olhando entre as economias desenvolvidas e os países vizinhos da América Latina, o Brasil é o primeiro a interromper o ciclo de alta de juros. Lembrando que também ele [o BC] foi o primeiro a começar, quando subiu em março de 2021. Os bancos das economias desenvolvidas e nem seus pares aqui na América Latina estavam subindo os juros".
Contudo, a economista ressalta que o comunicado do comitê não descarta a possibilidade de novas altas. Na avaliação de Nogueira, essa "pausa" serve para que a instituição" avalie e sinta os efeitos desfasados da política monetária agindo sobre economia e preços".
O economista-chefe da MB Associados e Especialista CNN em Economia, Sergio Vale, lembra que o Brasil teve a maior alta e iniciou com mais intensidade antes de todo mundo e provavelmente será dos primeiros a parar de fato.
Ainda que entre os especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business, a manutenção da taxa veio em linha com o consenso de mercado, eles chamam a atenção para a falta de unanimidade. Dois membros do Copom votaram a favor da alta adicional de 0,25 p.p. Esta foi a primeira decisão não unânime desde março de 2016.
Vale destacar que a questão da unanimidade "não é comum", mas ainda assim, era esperada.
"De certa forma, estava um pouco esperado, pois o BC, da última decisão para até aqui, deixou muito aberto se iria subir ou não a taxa. O banco deve permanecer com essa taxa de juros elevada por bastante tempo. Deve aguardar o primeiro semestre do ano que vem, para ter uma consolidação fiscal mais clara e, então, pensar em descer a Selic", afirmou.
O economista-chefe da Ryo Asset, Gabriel de Barros, diz que a divergência corresponde com a nota emitida pelo comitê, que traz um tom mais duro.
"O BC adicionou no balanço de riscos o overhearing da economia, ou seja, o debate do PIB estar rodando acima do potencial, o que é inflacionário e desafia a estratégia do BC de convergência da inflação para a meta".
Os economistas entendem que o risco fiscal foi o que motivou um comunicado mais austero por parte da instituição. Segundo Sergio Vale, a situação da política fiscal brasileira no final de 2022 e início de 2023 deve determinar se novas altas serão anunciadas.
"Se chegar no final deste ano ou no início do próximo ano e a questão fiscal não for bem encaminhada, teremos um sinal de desajuste, com um prognóstico de [cenário] fiscal muito complicado. O BC não vai se furtar a, eventualmente, subir a taxa de juros novamente", diz Vale.
Gabriel de Barros lembra que o risco é corroborado pela continuidade dos auxílios, com grande impacto no orçamento federal. "Sabemos que há uma fatura elevada a ser enfrentada em 2023, algo acima de R$ 200 bilhões, pela prorrogação de muitos benefícios temporários e que se tornarão permanentes, a exemplo do Auxílio Brasil, Caminhoneiros, Taxistas, Vale Gás, redução de tributos, precatórios e emendas de relator", elenca.
Para Tatiana Nogueira, com as sinalizações desta reunião, a Selic deve começar a arrefecer apenas em junho de 2023. Para este ano, a economista diz que a Selic deve permanecer em 13,75%, já para 2023, a expectativa é de que ela encerre em 10%.
Além disso, as previsões para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor-Amplo) referentes a 2022 e 2023 caíram no cenário de referência (de acordo com Selic e expectativas de inflação previstas pelo mercado). Por outro lado, subiram marginalmente para 2024, de 2,7% para 2,8% (ainda abaixo da meta de 3,0%).
Com informações CNN Business